A dream that i can know

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Missiva de mãe

Meu tesouro:

Desde que partiste para esse mundo de esplêndidas delícias, eu contemplava o teu leito pequenino e vázio,através da cortina densa das lágrimas com o coração despedaçado.
Escutava a cada instante a terna melodia da tua voz em cantilena doce e ingênua que me seguia sem cessar.
Muitas vezes embalada na ilusão de que dormias,preparava os mil carinhos da minha dedicação,e quando ia ofertar-tos...
Como é dolorosa a aflição dos que ficam na retaguarda,esperando a hora da viagem para o país da ventura,onde se encontra o amor!...
Se a noite fitava as estrelas coruscantes,no infinito,procurava advinhar qual delas se convertera em ninhos de sonhos para te agasalhar.
E quando a madrugada espocava em cânticos de rouxinóis e canários, eu me vestia com o silência da tua ausência para indagar ao próprio coração o porquê da tua partida.
Sem ti o sol perdeu a cor da tua luz e o sussuro do ar,no arvoredo,imitava,apenas,o lamento do meu próprio sofrer.
Recordo-me, ainda agora,de quando,insone,orei a Deus pela milésima vez,suplicando encontrar-me contigo...
Sonhei que seguia por ignota região de flores e música onde sabia que estavas.
Oh! As alegrias do nosso reencontro! A própria vida pareceu respeitar nossa união e parou de pulsar...
Já não está vázio o berço que antes te embalava nem solitário o meu coração.
Não te esqueci e jamais te substituirei.
Na minha dor eu perdera os ouvidos para outras dores e na solidão esquecera as estrelas solitárias que vagueiam na terra escura,sem coração algum para recebê-las.
Somente pude entendê-lo depois desse nosso encontro nesse abençoado além.
Guardo a impressão que me apontaste da região da luz,esses pequeninos que jornadeiam nas sombras da orfandade,para quem me pediste amparo.
O meu seio se dilatou,então,e uma imperiosa necessidade de amar,além do meu teto,cresceu em mim,empolgando-me a existência.
Agasalhei por ti e em memória de jesus,um outro anjinho que chorava na noite do abandono e que trouxe consigo para nosso lar a musicalidade sublime da tua infância,que me fazia falta.
Embora a saudade que ainda me persegue,revejo-te nele e, ao tomá-lo em meus braços,tenho-te outra vez junto ao meu coração.
Também o amo.
Todos os pequeninos são hoje parcelas do meu amor.
A felicidade canta em minha voz e sorri em minha boca.
Todavia,filhinho,do augusto seio de onde te encontras,ora por mim e pelas mães que vagueiam sofridas
pelos interminos caminhos do desespero sem conseguirem escutar outros desesperados,que lhes distendem mãos,esperando amparo,a fim de lhes ofertarem em retribuíção as jóias raras do júbilo pleno.
...E se te for possível,leva-me contigo,outra vez,a novo reencontro no encantado rincão da tua atual morada,
a fim de que a flor do entusiasmo e da alegria que pretendo doar a excelsa mãe de todas as mães não emurcheça no meu coração que se demora saudoso,estancando,por fim,as lágrimas que não consigo deixar de verter.

Anália Franco
(Do livro depoimentos vivos,cap, 41 psicografado por Divaldo Franco )





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